A Profecia Celestina

Às vezes penso que a vida é mesmo um encadear de coisas, como uma corrente em que vamos acrescentando aquelas pecinhas de metal e tornando a nossa área de liberdade mais lata.

Fui ver um filme chamado Profecia Celestina. Tinha alguma expectativa em relação a este filme. Já conhecia o livro de James Redfield há uns anos, desde o tempo em que andava no Reiki. E, não sendo uma verdade absoluta, pelo menos fez-me pensar.

Tal como esperava o filme parece meio “low budget”, passado no Peru, com paisagens luxuriantes e com uma fotografia e efeitos a lembrar o inicio dos anos 90, sem grandes artefactos, com o nosso Joaquim de Almeida a fazer parte do elenco.
É o conteúdo que conta aqui.
Confesso que prefiro filmes em que nos seja aguçado o apetite do que receber “verdades digeridas,”mas acredito que é difícil fazer um filme passar este tipo de mensagem.

Fui ver. Não com os olhos de quem olha para estas coisas pela primeira vez, até acha que tira dali uma lição interessante mas depois volta à sua “vida real”. Mas sim com os olhos de quem correlaciona diversos aspectos, aprecia as filosofias orientais, acredita num progresso espiritual independente das convicções religiosas e vê nas ultimas descobertas da Física Quântica espectros de muito do que se disse ali.
“Cada visão tem correspondência diretas com visões metafísicas e filosóficas dispersas pelas várias tradições de sabedoria e pelo próprio estado da arte do conhecimento científico.” (Rodrigo C. Liao)
Tudo começa com “um manuscrito Peruano antigo escrito em Aramaico que prediz uma maciça transformação espiritual da sociedade nos finais do século vinte”.

O personagem principal do filme tem um problema que eu entendo muito bem: nenhuma relação resulta com ele porque ele nunca “está lá”. Não se entrega. A única coisa que sabe fazer é controlar. Não por mal, mas porque foi assim que aprendeu a viver.
A maior parte de nós manipula emocionalmente e nem quase se dá conta de que o faz não para prejudicar o outro mas para seu proveito. Por medo de, ao não controlar, perder e isso torna-se um hábito. Ou então defende-se (nalguns casos como que alergicamente) de um possível controlador.
“Quando apareceram os homens primitivos, continuámos, inconscientemente, a nossa evolução, conquistando outros e obtendo energia, mas sempre avançando um pouco, para depois sermos conquistados por outros e perdermos a nossa energia. Este conflito físico continuou até à invenção da democracia, um sistema que não pôs termo aos conflitos, mas os fez mudar do nível físico para o mental. Agora, estamos a tomar consciência de todo este processo. Percebemos que toda a história humana nos preparou para realizar uma evolução consciente.” – tirado do livro.

O que o filme e o livro retratam afinal é a busca por uma verdade superior. Superior aos sentidos, a raças, a povos, a religiões, a sociedades estabelecidas, à competição, a hábitos de dificil remoção.

Aqui são presseguidos pregaminhos com 9 revelações ordenadas.
Uma história vista em inúmeras epopeias, profecias encerradas em mistérios resolvidos ou por resolver, onde mensagens grandiosas e sagradas nos chegam no momento certo.
Basta olhar para o estrondoso sucesso do Código de Da Vinci para perceber que já todos compreenderam que há uma dimensão diferente da palpável molecularmente, só que ainda não sabemos como materializá-la e isso deixa-nos confusos e cépticos, como um Africano no meio da Savana que leva com uma garrafa de coca-cola na cabeça e nem sabe bem de onde veio aquilo ou para que serve. Dizem-nos que o sentido da vida não é cognitivo e ficamos baralhados.
Fala-se neste filme de uma Nova Era de conhecimento espiritual, da evolução da história da humanidade desde o Big Bang, das coisas que estão lá e nós não vemos, das etapas que vamos vivendo até chegar à compreensão global, de um plano maior de que todos fazemos parte, de coincidências, de revelações, de atenção, de acreditar, de auras, de conexão, de abertura e entrega, de dar e receber, de missões de vida, de amplificação, de plenitude, mas sobretudo das leis do Universo, baseadas nas energias, na sincronicidade e na evolução das formas de consciência.

E o mais giro é que no final toda a gente se preparava para sair remexendo-se na cadeira quando passaram, imediatamente antes do genérico, as supostas revelações que eram a polpa de toda a película. Fez-se um silêncio total, em que quase se podia ouvir o beber daquelas palavras, tal a avidez das pessoas de se descobrirem e o apelo que sentem por algo que ainda não conseguem expressar.

O que dizem afinal as misteriosas revelações?
1 We are discovering again that we live in a deeply mysterious world, full of sudden coincidences and synchronistic encounters that seem destined.

2 As more of us awaken to this mystery, we will create a completely new worldview - redefining the universe as energetic and sacred.

3 We will discover that everything around us, all matter, consists of and stems from a divine energy that we are beginning to see and understand.

4 From this perspective, we can see that humans have always felt insecure and disconnected from this sacred source, and have tried to take energy by dominating each other. This struggle is responsible for all human conflict.

5 The only solution is to cultivate a personal reconnection with the divine, a mystical transformation that fills us with unlimited energy and love, extends our perception of beauty, and lifts us into a Higher-Self Awareness.

6 In this awareness, we can release our own pattern of controlling, and discover a specific truth, a mission, we are here to share that helps evolve humanity toward this new level of reality.

7 In pursuit of this mission, we can discover an inner intuition that shows us where to go and what to do, and if we make only positive interpretations, brings a flow of coincidences that opens the doors for our mission to unfold.

8 When enough of us enter this evolutionary flow, always giving energy to the higher-self of everyone we meet, we will build a new culture where our bodies evolve to ever higher levels of energy and perception.

9 In this way, we participate in the long journey of evolution from the Big Bang to life's ultimate goal: to energize our bodies, generation by generation, until we walk into a heaven we can finally see.

Mas como gosto de ver sempre o reverso da medalha - na visão dos mais cépticos, os misticos são escapistas e:
“Muito do que os espiritualistas da New Age ensinam são bons conselhos: Evitem pessoas destrutivas. Não se limitem a ouvir os outros, escutem-nos. Pensem. Explorem novas ideias e novos métodos de ter ideias. Seja criativo. Tenha um papel mais pró-activo na sua vida; não seja passivo. Pense positivo.

Mas há outro lado da New Age que é subjectivista e relativista. Há um lado que diz que a realidade é o que você quiser. A linha entre facto e ficção torna-se pouco clara. A ficção tem um lugar nas nossas vidas, mas tambem a realidade.”