O dia da mudança

Este fim-de-semana ficou marcado pelo referendo ao Aborto.
Acredito que muitos digam: “Até que enfim! Vamos poder voltar a ver o Telejornal e ouvir como temas de abertura assuntos relacionados com a transferência de jogadores e fascinantes entrevistas aos mesmos!” : )
Prevaleceu o sim à escolha da saúde e pela liberdade de consciência. E é disso que se trata, de despenalização, não de liberalização.
Votei sim. Mas não fiz nenhuma festa nem acho que o facto seja motivo para tal, mas sim motivo de responsabilização a que uma decisão destas obriga e que exige uma ponderação na construção de uma política e regulamentação à altura.
As convicções de cada um vão continuar a ser de cada um. Ninguém é obrigado a abortar. Pelo contrário, agora exige-se que se pense duas vezes ou mais, antes de tomar essa opção, que tem agora dever de ser mais esclarecida.
Mas a legitimidade de opção existe finalmente. Estão criadas as bases para o desenvolvimento de uma consciência pessoal e para o combate ao aborto clandestino de forma mais eficaz.
E nesta questão há que ser correcto na avaliação dos factos e não tratar as pessoas como tolas: é óbvio que o número de abortos vai aumentar porque se começam a passar às claras e não às escondidas. Era como Salazar dizer que não havia suicídio em Portugal. Haver havia, mas isso era encoberto.
A taxa de abstenção foi elevada, demonstrando a falta de envolvimento dos portugueses com questões que afectam a sociedade e sobretudo com a política de que se sentem dissociados.
Mas essa taxa de 56,4% não nos pode levar a afirmar (como fazia um dos nossos políticos em movimento pelo Não) que isso significa que essas pessoas queriam que as coisas ficassem como estavam, se o quisessem tinham ido votar e votariam Não.
Acredito mais que a taxa de abstenção reflecte uma desresponsabilização da parte de quem optou por não votar, porque afinal estes são assuntos que nos deixam confusos e há muita gente que prefere não optar e deixar nas mãos dos outros a resolução.