Paixão vinda do nada


Já lhes aconteceu terem uma paixão vinda do nada? Sim, claro. Dirão que todas as paixões vêm do nada pois claro, mas não do nada nada covenhamos!
Já viram uma borboleta nascer do nada? Não, claro. Primeiro são uma coisinha sem graça, um pequeno casulo, um novelo de fios e só depois um colorido espécime voador.
Assim são regra geral as paixões, elas começam em algum momento a mexer connosco. Começam como mera atenção, depois como interesse, depois como interesse redobrado, viram fascínio e depois de devidamente alimentadas transformam-se em paixão.
Mas não foi assim com a minha paixão por África. A minha paixão por este País veio do nada. Já tinha visto filmes e nada. Já tinha ouvido falar das suas cores, sons e sabores fortes e nada. Violência e brutalidade, pobreza e fome, doenças e bicharada, devolviam-me medo e distância.
E um dia, sem aviso prévio, imaginei-me lá. A viver os batuques dos tambores, a abraçar a miséria com amor, a construir com as minhas mãos, a perder a vista na imensidão do lugar, a suplantar os receios e a sentir o pulsar da terra. Como se aquele fosse dos lugares mais autênticos e reais à face da terra.
Coisa estranha esta que me deu. Não sei se conseguiria transformar essa paixão em amor. Mas a verdade é que para saber se essa paixão vai morrer ou crescer, vou ter que ir lá. Um dia.