Pergunta do Dia


"Se tivesse de passar os próximos dois anos num pequeno mas bem aprovisionado abrigo no Antárctico com outra pessoa, quem escolheria para ter consigo?"

Aleatoriamente retirada de “O Livro das Perguntas” “Uma ferramenta para se conhecer a si mesmo, ou como provocação para estimular debates, desafiar atitudes, moralidades, crenças.”


R: Hummmm... teria que pensar...

Instantes

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida
Na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido,
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos,
viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas,
nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
comeria mais sorvetes e menos favas,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui dessas pessoas
que viveu sensata e minuciosamente cada minuto da sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar atrás trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não o sabem,
disso é feita a vida,
só de momentos;
não percas o agora.
Eu era desses que nunca iam a parte nenhuma
sem um termómetro,
um saco de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se pudesse voltar a viver,
viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver
começaria a andar descalço no princípio da Primavera
e continuaria descalço até ao fim do Outuno.
Daria mais voltas no carrossel,
contemplaria mais amanheceres,
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas vejam lá,
tenho 85 anos e sei que estou a morrer."

Por Jorge Luís Borges

Frase do Dia

"O homem não nasceu para trabalhar, mas para criar."
Professor Agostinho da Silva

Lugares


Já algum dia experimentaram ir visitar hoteis? Não. Nada disso. Não como hóspedes, mas como simples curiosos. Chegar à recepção e dizer que se quer ver o espaço, um quarto, as salas comuns, a sala de refeições, as salas de reuniões... e ser conduzido por pessoas que nos contam pequenos segredos do hotel, ou simples pormenores, que nos respondem às nossas perguntas indiscretas: de quem o ocupa, de coisas sórdidas, de rotatividade de clientes e por aí a fora.
Eu já o fiz. Numa dada altura era obrigada a "meter o bedelho" onde não era chamada e até se tornou divertido (quando estava a tirar uma Pós-Graduação em Gestão Hoteleira e fazia parte dos trabalhos de casa fazer entrevistas, estudos e afins). Mas ontem fui simplesmente procurar um espaço para uma Conferência.
Chovia a cântaros, e dei por mim a praguejar contra o marketing e as fotos trabalhadas que colocam na internet para depois chegarmos ao local e reparamos que aquele candelabro XPTO até existe... mas é um detalhe insignificante num quarto a cair de velho... "nouvelle arte deco" dizem eles, para justificar o preço pedido pela noite dormida entre paredes a cheirar a bolor.
Fui aos Hoteis mais clean e modernos, primam pelo aprumo mas sente-se uma certa frieza nas paredes distantes. Há ali histórias para contar, de noites mal dormidas, de passagens rápidas, de mini-bares "assaltados", de reuniões de corpo presente...
Mas foi num desses agora designados de "hotel de charme", naqueles mais antigos e escondidos, de corredores estreitos, camas de dossel, padrões de cortinados e colchas demodé, soalhos rangentes e portas labirinticas, onde um pouco do conforto se troca pelo intimismo, que me surpreendi ao me ser revelado pela minha pseudo-anfitriã que tinha sido precisamente ali que Eça de Queiroz teria escrito os Maias. Parei estupefacta. Seria verdade?
Bem pela biobliografia ele esteve em Lisboa e a revelação da sua obra-prima só se deu depois de 1888... mas e a famosa casa de Tormes?
Visitei o quarto, o jardim, a varanda com vista para o Tejo... sendo verdade ou a mais pura das intrugices (o mais provável) tentei imaginá-lo naquele lugar, o que o inspirava, os seus gestos, as ideias que se lhe assomavam... De repente tudo ficou como que encantado. Devo ter ficado de tal modo fascinada que a moça que me acompanhava ficou com aquele ar de "Mas o que deu a esta?"
No final da experiência fui para casa com aquela sensação preenchida de ter visitado um museu e não me pareceu de todo uma segunda-feira! : )

Always make a list


Uma Odisseia no Espaço

“Desde os primórdios do século XX que, observamos uma crise da ciência moderna , cindida pela crescente especialização (ou divisão científica do trabalho) e pela instrumentalização exacerbada ao serviço de interesses de ordem do capital (a tecnologização da ciência). Mesmo com os avanços magistrais do conhecimento cientifico (e da dominação da Natureza), o homem burguês ainda está imerso em si e nos seus particularíssimos “mistérios” interiores na tentativa de uma vida plena de sentido. Mas a ciência moderna é incapaz de dar sentido à vida do homem. Mesmo “dominando” o tempo-espaço e reduzindo as barreiras naturais, o homem burguês tende “ab ovo” a encontrar-se consigo e com seus fantasmas interiores, espectros de uma interioridade exacerbada e vazia de sentido, imersa na memória e na sua temporalidade ancestral... ou retrospectiva. Temas-chave: crise da ciência e capitalismo tardio; técnica e tecnologia; memória e identidade humana; subjectividade, capital e tecnologia; valores sociais, técnica e sociabilidade.

Filmes relacionados: “Matrix”, dos Irmãos Wachowski; “Metropólis”, de Fritz Lang; “2001-Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick – (Que nos conduz pelo deep space, ao som da Valsa Danúbio Azul de Johann Strauss); “IA - Inteligência Artificial”, de Steven Spielberg; “Eu, Robô”, de Alex Proyas.

Nota: A imagem interior, pertence à NASA.”

Por Judith Tomaz

Frase do Dia

"Nada melhor para ser feliz do que trocar as preocupações por ocupações. "
Masteeline

Dreaming


Brrrrrrr em Lisboa

Estou enregeladamente (e relutantemente) de volta, depois de um fim de semana pautado pela BTL e pela neve em Lisboa.

Foram só uns pequenos flocos é certo, misturados com água e que logo se espapaçavam onde tocavam, mas, pelo segundo ano consecutivo neva em Lisboa fazendo as delicias dos que observam esse momento mágico.

Não sei se já viram nevar até tudo se cobrir de um lindo manto branco, o silêncio preenchido e calmo é tão forte que quase podemos ouvir a música que os faz dançar caindo do céu.
Este ano havia até um Plano de Contingência e, para alívio dos mais preocupados, os sem-abrigo foram retirados das ruas e acolhidos no Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, sendo-lhes oferecido um espaço quente e refeições e, quem sabe, um ponto de partida para a inclusão social destas pessoas que se viram reduzidas a pouco mais que nada.

Ora isto é tudo muito bonito. Se observarmos a coisa de perto o nosso coração enche-se de sentimentos calorosos e até aproveitamos o frio para ficarmos mais um pouco no quentinho da cama, agora... Se observarmos o fenómeno de uma forma um pouco mais macro podemos compreender que as alterações climatéricas são de facto preocupantes.
E é precisamente sobre isto que o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, vem falar no dia 8 de Fevereiro, na sequência do documentário que passou nos Cinemas «Uma verdade inconveniente».

À parte da promoção política, Al Gore tem vindo desde a década de 1970 a acompanhar a questão do aquecimento global, os factos apresentados são cientificos e assustadores e exigem que comecemos a agir já.
A Conferência vai decorrer no Museu da Electricidade e Al Gore só fez uma exigência para se deslocar a Portugal: que lhe pusessem à disposição um veículo híbrido. Vai ter, por isso, direito a um Lexus GS 450h (...sacanas).

Para além disto, Al Gore aproveita ainda a sua presença para estar no 3º Forum Comércio Moderno dias 7/8 Março, no Centro de Congressos do Estoril para 2 dias de Debate sobre Ambiente Consumo e Marcas. http://www.aped.pt/index.php?option=com_docman&task=docclick&Itemid=0&bid=118&limitstart=0&limit=10.

Quanto à BTL, estou certa de que contou com muita gente apinhada e muitas ofertas de correr já a fazer a mala, mas como se costuma dizer “longe da vista longe do coração” (ou da carteira!) e este ano já tenho planos para as Férias.

Obrigada!


Entrei e olhei em volta. Tudo impecável, zen, equilibrado. E logo aquele odor a essências misteriosas e vibrações positivas invade todos os poros do corpo. Uma sala de relax, uma massagem compassada, deleite puro.

Levantei-me a sentir-me Rainha, Deusa, pedaço de nuvem no céu!

Obrigada aos meus amigos que me ofereceram este mimo!

Frase do Dia

"Os navios estão a salvo nos portos, mas não foi para ficarem ancorados que eles foram criados."
Autor Desconhecido

The World News


Pesquisa


As estatisticas são esclarecedoras, pesquisamos na net para saber mais. Figuras públicas, futebol, música, vídeo, telenovelas, acontecimentos, doenças, tecnologias, formas de expressão, levitação e tatuagens são alguns dos termos mais procurados apontados pelo gigante Google. ...Estaremos a precisar de nos evadir?

Artigo integral:
"Depois do Yahoo, chegou a vez de o Google divulgar o que mais interessou aos seus utilizadores este ano. Borat, Paris Hilton ou Hezbollah foram alguns dos termos mais procurados no motor de pesquisa em 2006.Bebo e MySpace, dois sites de comunidade que permitem a criação de páginas pessoais, com música, fotos e vídeos, foram os termos mais pesquisados no directório do Google em 2006.
O Campeonato Mundial de Futebol foi outro dos temas de eleição dos cibernautas, surgindo no terceiro lugar na lista das dez palavras mais pesquisadas.Mas, febre futebolística aparte, o top 10 das pesquisas é dominado por desenvolvimentos da Web 2.0, como o site de vídeos Metacafe (4º lugar), o serviço de streaming de música Radioblog (5º) ou a Wikipedia (6º).
Se dúvidas houvesse bastava acrescentar que o 7º termo mais pesquisado foi “vídeo” e que “wiki” surge na 10ª posição.De resto, o espanhol também começa a ganhar representatividade no mundo dos 3 Ws. Só assim se compreende que “Rebelde”, nome de uma telenovela mexicana, tenha alcançado o oitavo lugar entre as palavras mais solicitadas.Já no indexador de notícias, assuntos relacionados com celebridades, doenças, tragédias e eventos bizarros dominaram o ano.
Em primeiro lugar surge a (sempre) polémica herdeira do império Hilton, Paris, relegando para o segundo posto o talentoso e sexy Orlando Bloom.
Nesta secção seguem-se as palavras cancro, podcasting, Katrina e falência.Este ano, os utilizadores também colocaram muitas perguntas ao popular motor de pesquisa.
As questões mais populares entre as do tipo “Quem é?” foram as relacionadas com Borat, o jornalista do Cazaquistão criado pelo humorista inglês Sacha Cohen.
O escritor Truman Capote também parece ter ganho popularidade. Depois de terem sido lançados dois filmes baseados na sua figura, muitas pessoas quiseram saber mais sobre o excêntrico autor.
A par dessas perguntas, também se registou interesse em saber mais sobre o Hezbollah e diferentes tipos de drogas, como o Xanax.Já na secção “Como fazer”, o que mais pessoas gostariam de saber era como criar uma página wiki, um podcast, gritar, levitar ou fazer uma tatuagem. Sinais dos tempos?"
In 4Discovery Wordpress

Mergulho no tempo

Onde foi que perdemos aquela calma de infância?
Aquele tempo que não havia maneira de passar, e nós que nunca mais eramos crescidos para fazermos o que queriamos. E se queriamos poder fazer coisas ...hum hum! Puro contracenso de quem agora dava tudo para ter um tempinho para não fazer praticamente nada e poder ver, por uns dias que fosse, as horas passar ao compasso do vento nas folhas das árvores.

Manhãs inteiras de olhos pregados Televisão, fascinados com o Justiceiro, o McGyver, o Tom Saywer e a Galática. Brincadeiras na rua, um tédio pontuado com a adrenalina de um disparate qualquer.

Tudo era uma grande aventura, uma caderneta de cromos, um orgão que tocava sózinho, uma corrida de bicileta, um corneto ou um perna de pau comprados às escondidas dos pais...

As coisas dos adultos eram enfadonhas, aprumadinhas e secantes... e a verdade é que muitas não deixaram de ser mas nós passámos a entrar no jogo.

Onde é que entrámos na espiral do tempo?

Ontem já eram perto das 2h00 da manhã quando parei com o furioso teclar que fazia sinfonia com as nostálgicas músicas que passavam na rádio e desligava o computador finalizando um briefing.

E dei comigo a pensar que agora perdemos facilmente a noção do tempo mas não porque "era tal a risada que nos descuidámos nas horas".

E lá vamos tentando encaixar tudo na agenda, arranjamos até forma de esmagar as coisas umas contra as outras e tirar-lhes o ar para ficarem bem compactas, e no final é com frustação que percebemos que a bagagem é maior que a mala e que deixar uma folguinha na mala é uma opção inteligente para as coisas irem ocupando o seu lugar.

É por essas e por outras que hoje só para me vingar do tempo vou deixar tudo e deliciar-me com uma bela massagem que me ofereceram no Natal.

Pergunta do Dia


"Se fossem garantidas respostas sinceras para três perguntas, a quem perguntaria e o que perguntaria? "

Aleatoriamente retirada de “O Livro das Perguntas” - “Uma ferramenta para se conhecer a si mesmo, ou como provocação para estimular debates, desafiar atitudes, moralidades, crenças.”

R: Em que consiste a vida? Como viemos aqui parar? Porquê? ... só três??

O colega de Trabalho

Eu nem me posso queixar mas... não podia deixar de partilhar, afinal dei comigo a sorrir...

"Gramamos a família porque a hereditariedade nos impõe, gramamos o marido (ou a mulher) porque o escolhemos de livre vontade, mas gramamos os colegas de trabalho porque nos calham na rifa e temos de levar com eles em cima, a bem ou a mal, na melhor das hipóteses, oito horas por dia. Ou seja: a família, quando muito, aos domingos e feriados; o marido e os filhos, duas, três horas por dia, no máximo (metade das quais a ver televisão ou a partilhar tarefas domésticas); e os outros, para os quais não fomos ouvidos nem achados, dispõem de mais tempo e de mais espaço do que toda a nossa vida somada. É com eles que rimos, choramos, que nos irritamos, que amuamos, que lixamos ou somos lixados, que vamos à bica e às compras, é a eles que avaliamos, que ajudamos, são eles os nossos carrascos e cúmplices, os nossos amigos ou, pior, os nossos principais inimigos. É no trabalho, acho eu, que revelamos as nossas grandes capacidades e virtudes, mas também, e como há tempo para tudo, o pior que o ser humano tem: a inveja, o rancor, a gula (roubo todas as caixas de chocolates onde os meus olhos vão parar), a vaidade, a intriga, o orgulho, a luxúria (enfim, todos sabem como e porquê. «Ai, você hoje está linda...», «Acha dr.?», «Não acho, tenho a certeza, brilha como a lua»). O ambiente de trabalho é assim, muitas vezes, uma impiedosa arena do circo romano onde se mata quem é fraco, sobrevive quem é forte. É esta a tragédia da questão. Competitividade e matança são armas letais de significado idêntico - desafie-se o poder! Mas como perder ninguém quer, ligamos a competição à ambição (a longo prazo) e à ganância (a curto prazo), tudo em circuito fechado, para que a via-sacra da matança seja forte demais e excitante demais para a conseguirmos abafar. Se o chefe for mulher pior ainda. Para já, se uma mulher quer ascender seja a que cargo for, terá de ser feia e gorda, usar saias por baixo do joelho, óculos fundo de garrafa; se tiver uns vestígios de barba e buço facilita as coisas. É inteligente, não dorme com o patrão e até é humana, coitada. Se tiver azar e for gira ou mesmo girinha (as girinhas têm quase sempre celulite) e «de confiança», como agora se usa dizer, está tramada, não pode ser inteligente, é fútil (se for ao cabeleireiro à hora do almoço, assinou a sua sentença de morte) e, obviamente, se subir, é na horizontal. São estes os códigos em voga. Cabe portanto aos outros, ao colega do lado, fazer a ansiada denúncia. Há sempre um gajo porreiro em que nos escudamos e que, de facto, não nos quer tramar às primeiras; um gajo que tem dias e que ora amanteiga para a direita, ora amanteiga para a esquerda - é o gajo que quando a coisa corre bem foi ele próprio que a fez (é «muita bom»), quando corre mal, fomos nós, pobres inexperientes e ele até se fartou de nos avisar, infelizmente não acreditámos no seu teatro.
Adoro a tribo dos manteigueiros frenéticos: aqueles que só saem depois do chefe nem que fiquem a jogar paciências no computador, que nos desfazem em strogonof pelas costas, que controlam as nossas entradas e saídas de cena, bichanam com os seus superiores e ajustam contas com as secretárias e o pessoal, a quem com tanta alma chamam «menor», baralhando sem pudor humilhação com humildade. Prefiro o folclore dos que gritam como ovelha a ser degolada mas que depois se redimem ao acrescentarem uns parágrafos triunfais na «porra» do dossiê. Não gosto dos engomadinhos, penteadinhos e pintadinhas que levam três anos a tomar a bica e que se atropelam para ver quem escreve na reunião e depois nicles, nem eles sabem o que escrevem e para quem escrevem, tanto papel sujo que valha-me Deus. Em boa verdade os portugueses gostam muito de escrever. Numa reunião riscam-nos do mapa se não chegarmos ajoujados de papéis, para umas notazinhas sintéticas, juro que não sei o que fazem ao raio do papel porque, na grande maioria dos casos, nada surte do que foi anotado tão meticulosamente. Nós os portugueses adoramos reunir. Podemos não fazer a ponta de um corno, mas reunir tem de ser. Basta reunir e já está! Não é nunca o ponto de partida, é sempre o ponto de chegada. E antes de reunir gostam de planear a estratégia para tramar o parceiro. Pode não haver estratégia para mais nada, mas para tramar o colega do lado aqui vai disto.
Agressividade quanto baste é a metodologia (odeio esta palavra) para chegar ao poder. Todos conhecem a cartilha, a cru ou disfarçada de fada boa. Em suma, os portugueses acham que para serem melhores têm de arranjar alguém para mau da fita, é a teoria dos vasos comunicantes em
todo o seu esplendor. É com «vasos» destes - que à partida não são nem amigos, nem filhos, nem marido, nem sequer os escolhemos num menu - que temos de partilhar o cheiro, a voz, e o génio; das ramelas, à barba por fazer; das malhas na meia ao rímel esborratado, todas as horas, todos os dias, todos os anos. É tudo uma questão de «ambiente» no trabalho!"

Maria João Lopo de Carvalho - in Expresso

Vida actual

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.
Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis. E um exército de professores explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.
É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac.
É a velha história da cenoura e do burro : quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

Texto de João Pereira Coutinho, jornalista

Ai que soninho


As segundas-feiras de manhã deviam ser abolidas!
Quanto a mim, deviamos iniciar a labuta semanal à segunda à tarde, confortavelmente, depois de umas horas de mentalização e depois da preguiça ser sacudida.
Começamos a descomprimir ao sábado. Domingo instalamo-nos no descanso e bem-estar e eis quando... Zás!! Atiram-nos outra vez para uma espécie de bombo de máquina de lavar roupa às voltas com o teclado, os e-mails, os papeis, os telefonemas, as urgências e as emergências.
8h30 - Ainda macambuzios a tentar perceber como chegámos ao nosso posto de trabalho e liga alguém a pedir não sei o quê (tenho para mim que estas pessoas devem ligar o colchão a uma espécie de carregador que descobriram à venda no TV Shop ou similar, só pode). E põe-se a questão: Mas quem és tu? Quem és tu que não compreendes que o reconhecimento de faces e nomes só se dá quando o cérebro passa do estado alfa para o estado beta.
E depois claro, admiram-se com a improdutividade, com as repartições caricaturadas de não fazer nenhum... ora há que entender que essas pessoas passam a semana em negação, simplesmente porque não lhes foi dado tempo para compreenderem que o fim de semana já tinha afinal acabado!
Está bem pronto... eu vou trabalhar!

Tuga

Já pararam para pensar no que significa TUGA?

Sim esse diminutivo com que cínico-carinhosamente apelidamos o Português.
Nunca pensaram porque razão essa expressão se refere, regra geral, ao pior de pertencer ao cantinho à Beira Mar Plantado?
Ora vejamos um exercicio de desmistificação da sigla:
- Temos Última Greve Agendada.
- Trabalho e Urgência Guarde para Amanhã...
Ou talvez signifique por exemplo:
- "The United Galaxies Alliance"... :)
A 23 de Dezembro podia-se ler no semanário Sol: “Foguetão russo lançará no espaço um satélite que procurará novos planetas e desvendará o interior das estrelas. O português Mário João Monteiro é co-investigador da missão”.
A verdade é que os Tugas estão em todo lado e é a nossa fraca auto-estima e pessimismo nacional que nos faz muitas vezes desvalorizar o que temos de melhor, num complexo de povo esquecido e rotulado com o nostálgico e triste fado.
E para quem se interesse por estes assuntos espaciais (para não me alongar na lista de competências e referências Tugas em quase todas as áreas e sectores):
"Portugal possui um sector espacial com algumas empresas nacionais a competirem lado a lado com grandes grupos empresariais estrangeiros. Empresas como a Critical Software, Lusospace, Deimos, Edisoft, Skysoft e Space Services têm dado provas de estarem à altura de grandes projectos internacionais. " - in Astropolitica
E esta hein Srs. Tugas?

Frase do dia

"Uma palavra nova é como uma semente fresca que se joga no terreno da discussão."
- Ludwig Wittgenstein.

Calvin e Mia


Dizem que os animais pressentem as emoções dos seus donos.
Acredito nisso.

Entrei em casa ainda num misto de irritação e de qualquer coisa mais que não sei definir mas que me dava vontade de bater em alguem ou mesmo em mim própria.
Há dias assim. E ontem foi um desses dias em que as notícias que ia recebendo no trabalho me faziam acreditar que havia um qualquer plano maquiavélico e infernal, ora contra mim pessoalmente, ora contra a àrea de negócio em que me insiro.
Mas adiante.

A verdade é que o Calvin e a Mia (na foto) desataram numa correria estonteante pela casa, mordendo-se, escondendo-se, apanhando-se, dando patadas um no outro e no meio de uma bulha grunhenta pararam na posição ninja em que estavam (numa perfeita imagem congelada do movimento de patas no ar, como se eu tivesse dito “olha a foto!” e os tivesse surpreendido de olhos arregalados) olharam para mim como que a dizer “então não te ris destas nossas acrobacias?”. Soltei uma gargalhada e com ela um pedaço de tensão.

Eles desenvencilharam-se então um do outro e vieram calmamente sentar-se ao meu lado, ladeando-me e dando-me ternurentas marradinhas com a cabeça. Conhecem-me bem estes meus bichos traquinas, sabem bem como me fazer acalmar e ficar mais bem disposta. O sucalco da testa franzida depressa se dissipou.

E é nestes momentos que reparamos com atenção nas pequenas coisas que tomamos como comuns e até rotineiras, como o facto daqueles dois bolas de pêlo estarem ali todos os dias à porta à minha espera para me receberem (ou se calhar é para verem se venho carregada de sacos de compras com comida e só percebem mesmo o “bla bla bla Wiskas saquetas”).

Aqueles dois que salvei de uma muito provável morte e que passam o dia a dormitar e a espreguiçar-se. Rica vida.
Comem; brincam com tudo que apanham (e estou em crer que foram eles que inventaram o futebol); espreitam da janela as pessoas na rua com atentas orelhas espetadas; metem-se onde não são chamados (foi à conta disso que a Mia voou da janela e acabou com uma pata partida); cheiram tudo (são loucos por aromas de perfumes e cosméticos); têm como hobbie morder sapatos e coisas que levo do escritório (!!); chamam com miados e arranhadelas na porta se ao fim de semana me sentem acordada no quarto e ainda não lhes fui dizer bom dia; arranham o sofá por puro prazer de me ver na minha faceta soviética; adoram o som da àgua a correr; metem-se com as gotas que escorrem na cortina do duche tentando apanhá-las; dão pequenos gemidos quando estão excitados com a caça a uma simples mosca; fazem birra quando demoro um pouco mais a trocar a areia; fogem a 7 patas dos veterinários, banhos e penteadelas; não gostam de ficar muito tempo sózinhos; odeiam viagens de carro; abominam o aspirador; desconfiam da esfregona que deixa o chão escorregadio e os faz dar grandes derrapagens e correr vários segundos no mesmo sitio sem sair do lugar (tal e qual como nos desenhos animados); acham que são mestres no jogo das escondidas mas esquecem-se da cauda de fora; são territoriais, observadores mas sociais e nunca os vi assanhados; ele é tigrado, persistente, brincalhão, carente e fugidio, um perfeito gato de rua adaptado ao apartamento; ela não ronrona, é mais segura mas mais ciumenta, é meiga mas fica amuada e vira-me as costas se lhe ralho, nunca toca em comida de gente nem no lixo. Ele é um rufia, ela uma perfeita dondoca.

Inicialmente fiquei com eles apenas temporariamente (pois sou alérgica ao pêlo... mas se não podes vencê-los junta-te a eles!) ... a verdade é que os adoro e à sua forma de acharem que são o centro de tudo, como bem ilustra o que dizia uma amiga minha:
“Quando damos de comer a um cão ele acha que somos Deus,
Quando damos de comer a um gato ele acha que é um Deus.”

Para se juntar à festa tenho ainda uma tartaruga (a Clarinha) e 7 peixes vermelhos (o shake that ass, o yahoo, o barbatanas, o barriga, o little, o red, e o malhado) que à primeira vista podem parecer todos iguais mas são bem diferentes. Mas sobre estes todos falarei outro dia.

Fuga

Parem um minutinho e sintam só... uma confortável cabana em cima de águas calmas em Bora Bora... o sol quente a aquecer-nos a pele, manhãs preguiçosas, passeios entusiasmados, um lanche gostoso no meio de animada cavaqueira, noites dançantes, tempo para respirar...
...estou mesmo a precisar de férias!

Livro do Desassossego


“Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. (...). Estremeço (...) como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas (...)”
- Livro do Desassossego Vol.I. - Fernando Pessoa (1888-1935)

Frase do Dia

"Há duas maneiras de viver a vida: Uma, é como se nada fosse milagre. A outra, com se tudo fosse milagre." - Albert Einstein

Instantes

Vagueando na loja por entre estantes e livros, esbarro num notável (apenas porque se fazia notar!) senhor, que, apontando para um livro de capa amarela, diz em tom de sobranceiro gozo: “Olha Olha! Aquele livro é para ti! Internet para TOTÓS!… tss (com ar de enfado) tu nem deves saber o que é um totó calha bem.”
O puto olha-o do seu meio metro, cresce até se tornar do tamanho da sala e remata com perfeita naturalidade: “Sei. (Pausa) És tu.”
Mal pude conter o riso, fui-me dali para não me mostrar intrometida.
Absolutamente deliciosas estas crianças!

Meia volta depois volto a esbarrar com a dupla pai-filho.
Provavelmente ainda descontente com a lição de “quem é que goza aqui afinal”, aponta para um calhamaço de gestão com a sigla PME e outro bla bla bla escrito na fronte e pergunta, como quem diz “Quero ver agora se és assim tão espertalhão”. “Então e isto? O que é que quer dizer? Vá!! Diz-me lá!”
E o puto, que mal devia saber ler e escrever, faz o olhar de ponto de interrogação que muitos dos nossos pequenos e médios empresários fariam, sem imaginar que tal sigla existe para caracterizar a Pastelaria Pão Quente, O Restaurante o Repasto, a Papelaria Mil Folhas, as Confecções Cose com Pontos e Linhas e o Hotel Rural Quinta do Descobre que o Leite não vem das embalagens… Vamos pôr esperança no miúdo e pensar que qualquer dia responde ao pai: “e tu já descobriste o que é o SSMG (Sindroma do Sou o Maior e Gosto)?”

Pergunta do Dia

“Consegue imaginar-se no futuro a olhar para trás e a ver coisas que está a fazer hoje? Se sim, até que ponto tenta viver hoje da maneira como desejaria ter vivido, quando um dia olhar para trás?”

Aleatoriamente retirada de “O Livro das Perguntas”
“Uma ferramenta para se conhecer a si mesmo, ou como provocação para estimular debates, desafiar atitudes, moralidades, crenças.”

R: Consigo. Pois é uma boa questão...

Sensia




"I navigate between the worlds of Spirit and Matter, composing both fiction and nonfiction–which are, of course, not separate but mirror images, twisting helices of meaning, encoding and decoding life as an expression of creative consciousness. No coincidences, only synchronicity… At any rate, drop a line, say hello… " In SoulSensia.

Faço minhas estas palavras, em jeito de pequena homenagem à minha amiga Kikas, um exemplo inspirador de alguem que decidiu seguir o rio da vida e trocar o sucesso empresarial por uma pequena localidade, no sonho por uma vivência em que pudesse encontrar tempo para o tempo.

BABEL


Fui ver o filme Babel com uns amigos. No final, as opiniões do "gostei/não gostei" divergiam.
É talvez preciso lembrar que a história bíblica é uma parábola sobre a soberba humana. Aqui é abordada a globalização, mas a ainda actual dificuldade humana de sair da sua própria realidade.

A narrativa em si nada tem de extraordinário, são os locais e sobretudo as personagens (caracterizados quase cruamente como naquela realidade que tentamos esquecer quando vamos ao cinema) que nos fazem render. E talvez seja esse apagar do aspiracional glamour Hollywoodesco que o torna marcante.

É um filme em que tudo dança num equilibrio pautado pelos contrastes de espaço. Ora estamos em África, ora no México, ora na Ásia. Numa cadência de vivências intrinsecamente ligadas entre si. Numa representação de causa-efeito.

A grande riqueza de uma imagem reside no facto de nos conseguir transportar para um imaginário do que não foi dito nem mostrado mas está lá omnipresente para quem quiser ver. Mais do que o está explicito, sempre cabe ao espectador fazer esta desconstrução.

O jogo de personagens leva-nos à representação complexa de uma rede de emoções humanas:
- Uma pobre família vivendo numa zona árida, numa analogia às suas próprias vidas, mostra-nos o sentido de isolamento e sobrevivência;
- O jovem pastor que espia a nudez da própria irmã, toca em questões como a adolescência e o despontar da sexualidade, temas também abordados num contexto geográfico e cultural completamente diferente, pela mão de uma jovem asiática, que nos retrata ainda a constante busca de sensações e o sentimento de enorme solidão vivido numa cidade repleta de gente, e em que a sua surdez-mudez mais parece uma metáfora das suas emocões deficientes - porque demasiado ávidas de carinho e atenção - cuja carência angustiante os outros rejeitam;
- Uma ama dedicada que se vê deportada para o México, levando consigo culpa e dor;
- Um guia que recusa o dinheiro que o turista americano lhe quer dar no final de 5 dias de albergue à mulher ferida, fazendo-nos conseguir quase tocar sentimentos como generosidade e gratidão;
- A dor psicológica que dói muitas vezes mais que a fisica, alcança-nos através do casal que perdeu um filho bebé e em que a mulher foi baleada, e não se terá sentido ela assim no momento da perda?
...E muito mais nos chega com mestria e uma nota de peso e dramatismo.

São retratadas diferenças, preconceitos... mas mais do que choques de culturas, é abordado o ser humano, na sua capacidade de amar, na sua fragilidade, na forma como todos estamos ligados.

No final, este é um daqueles filmes que fazem pensar e que não me deixou indiferente.

Su.

Diário Online

Hoje inicia-se uma nova era na minha vida cibernáutica: um blog! : )
Rendo-me à janela indiscreta que abrimos sobre nós, partilhando com quem nos lê registos do que nos marca, quotidianos, vivências, impressões, sucalcos, pedaços de ideias.
Espero que gostem. Eu vou adorar.