Folk Songs Trio

Passei o segurança com alívio. Tinha passado com um ihihh silencioso por menor de 30 anos (afinal os bilhetes custavam mais 10€ para maiores de 30).
Entrei e sentei-me nas cadeiras do auditório da Culturgest. Sabia apenas que era um projecto que combina improviso e sons captados em cinco cidades portuguesas e que o estilo seria entre o free jazz, o hip hop e a música tradicional. No fundo não sabia bem o que esperar, mas a foto do trio dava ares de ser um bom programa para uma quinta à noite.
Fez-se silêncio e entrou William Parker que nos deu um show de contrabaixo desconcertante como que num despertar suave para o que estava para vir. Seguiram-se os outros dois músicos, Guillermo Brown na mesa de mistura (onde o elemento mais forte eram os sons que fazia com a própria voz) enquanto Victor Gama rodava impressionantemente os seus dedos entre extravagantes instrumentos construídos por si próprio.
Na parede de trás eram projectadas imagens de Lisboa e de outras cidades portuguesas, imagens de rua, de tascas, de pessoas genuínas. Fotografias fortes mas com um travo triste do fado da alma lusitana. Achei confuso unir as fotos ao som, já que não acompanhavam a cadência emocional das fotografias. Fechei os olhos por uns segundos, as imagens que o som me evocava eram distintas daquelas e mais longínquas, exóticas até.
Um arrepio percorreu-me a pele ao sentir que aqueles músicos tocavam por prazer, com entrega, como se fizessem amor com aquele instrumento, sentindo-o reagir a cada toque.
E no final, mesmo sendo um show refinado, o meu ouvido educado pela música comercial anuiu que aquilo era mesmo bom.

Este projecto conta ainda com um site www.cincocidades.com, “onde o utilizador pode compor a sua própria música, combinando sons que estão numa base de dados, como o toque de sinos de uma igreja em Torres Vedras, o chilrear dos pássaros à beira do Tejo, o ambiente de uma tasca de bifanas no Porto ou o som de um workshop de jazz em Braga”.