Há uns tempos uma amiga minha foi a minha casa e notou, talvez um pouco surpresa, uma mesa baixa, usada como pequeno altar com um Buda e incenso a meio, em frente ao qual me sento, tentando centrar-me num estado de meditação alguns minutos por dia. “Já não és católica?” Perguntou-me ela.

Acredito que para a maior parte das pessoas haja um certo receio sobre as coisas estranhas em que eu andaria "metida" - afinal é o desconhecimento que leva à rejeição e muitas vezes desrespeito de outras visões das coisas.

Fui educada de forma extremamente católica: tenho tudo o que devia ter e mais um alguma coisa, desde o baptismo à profissão de fé, Crisma etc.
Estive 5 anos num colégio de freiras (em regime de estudo externo num liceu misto), fui até catequista - o que mais do que falar sobre a Igreja Católica me ensinou a manter numa sala desassossegadas crianças de 6 anos.
E, apesar de achar que a Igreja Católica tem as suas limitações, no Natal e épocas festivas continuo a ir às celebrações dominicais com a família.

Mas como questiono tudo (fiquei parada na idade dos Porquês...) e gosto de conhecer sempre mais do que me dão a conhecer, foi no Budismo que encontrei muitas das filosofias com que me identifico mais e foi com os Livros da Cabala que me pus a pensar em muita coisa.

Todas as correntes de fé, ou de religião são feitas por homens, e, à semelhança deles, têm defeitos e incongruências. Dentro do próprio Budismo, há ramos bastante extremistas que defendem a necessidade do sofrimento humano, isto, de forma mal interpretada pode dar aso a alguns dissabores para não dizer atrocidades.

Vejo-me como uma eterna aprendiz de gente e da vida. Avalio tudo, de forma consciente e com sentido crítico, optando pelas posições com que mais me identifico.

Claro que isto é uma maçada porque dá muito trabalho, mas eu nasci com esse “bichinho carpinteiro” que me faz querer olhar a floresta de longe e não olhar apenas para uma árvore sem perceber a verdadeira dimensão de um determinado lugar.

A certa altura já se trata de algo mais do que de usar a mente. Quando falamos de fé, falamos de um “encaixe” no nosso sentir mais profundo, num despertar para as coisas menos mundanas e mais transcendentais.

A fé que tenho, não é fé em doutrinas, religiões ou seitas, é fé na nossa notável capacidade para o pior mas também avassaladoramente para o melhor. E muitas vezes esta fé esmorece e precisa ser alimentada e estimulada.

Se perguntarem: “Em que é que acreditas afinal?”
Respondo que acredito numa força ou energia superior mas que também nós somos seres divinos, só que colocamos no exterior todas as culpas para o que de bom e mau nos acontece.

Acredito que as lutas pelo “Meu Deus que é único e mais verdadeiro que o teu” que fazem correr rios de sangue, não são mais que uma incapacidade de aceitar que não temos uma única verdade, como crianças na escola que defendem o seu pai como o melhor e mais forte de todos os pais (e se virmos bem, para as crianças os adultos também são como deuses). É esta aprendizagem que nos obriga a ser mais tolerantes.

No final, acredito num plano maior, que nos envolve. Como uma nuvem que faz de nós gotas da chuva caindo sobre a terra fértil e que mais tarde, sobre o processo de evaporação à nuvem retornam, numa verdadeira unicidade de tudo.

Mas isto é a minha convicção pessoal, e friso a quem me lê que não pretendo com os meus textos qualquer tipo de moralismo, mas uma forma de partilha do que povoa isso que é tão nosso e que se chama: a minha forma de olhar as coisas.